quinta-feira, 6 de agosto de 2009

No percurso para a Alta Competição

No desporto em geral deparo-me com uma situação à qual gostava de ter uma resposta exacta: a influência da vida académica dos jovens no percurso para a Alta Competição.
Vejamos isto à luz da minha realidade, o futebol. Desta forma vou caracterizar a população à qual me refiro:
Neste percurso as escolhas que estes jovens fizeram centram-se num único objectivo, que potencia as suas atitudes, os seus desejos e as suas preocupações, o jogar futebol. Mas este objectivo pode assemelhar-se ao de qualquer pessoa que goste de jogar futebol e que sempre que pode sai de casa e vai jogar com os amigos. Porém, no caso destes jogadores, a diferença está no facto de se encontrarem já dentro do mundo mediático do futebol, embora se encontrem ainda num percurso para a profissionalização. Para Cruz (1996), quando estes pertencem a uma equipa com visibilidade competitiva internacional esta circunstância inflama as suas expectativas. Desta forma, estes jovens jogadores vivem intensamente a possibilidade de progredirem e de poderem dar continuidade ao seu sonho.
A dedicação quase total que o treino e a competição exigem, pode ser “castradora” de outros desejos ou intenções, nomeadamente do avanço nos estudos e do alcance de um nível escolar superior (Brito, 2007).
Nem vou falar da importância do desenvolvimento cognitivo que proporciona o andar na escola... andar na escola é também conviver. Socializar é trocar sentimentos e emoções, estados anímicos associados ao conflito (Jares, 2002), no sentido da uniformização de sensibilidades semelhantes ao nível da atitude, opiniões, interesses, de traços de personalidade, de competências cognitivas e socioemocionais. Desta forma propicia-se a formação de um grupo de pertença, devido ao envolvimento emocional e cognitivo dos indivíduos e às consequentes expressões comportamentais desse envolvimento. Logo, é impossível analisar a personalidade (assim como o desenvolvimento desta) de um sujeito sem atendermos ao comportamento do grupo, que é tanto função dos sujeitos quanto a situação social (Vala & Monteiro, 2002).
O ser humano vive em constante desenvolvimento, definido pelas alterações que ocorrem com o tempo no pensamento, comportamento, raciocínio e funcionamento de uma pessoa, devido a influências biológicas, individuais e ambientais. Em todos os estádios de desenvolvimento ocorrem mudanças claras e significativas, mas na adolescência estas são importantes e fundamentais no pensamento ao nível das funções intelectuais básicas e de nível superior, da organização e de conteúdo (Slater & Bremner, 2005).
A adolescência é a transição entre a infância e a idade adulta, que vai dos 11 aos 20 anos, que implica grandes mudanças interrelacionadas ao nível físico, cognitivo e psicossocial. O crescimento físico é rápido e profundo, é alcançada a maturidade reprodutiva (marcador mais relevante desta fase) – à luz da teoria social, a sexualidade é culturalmente esperada, relacionalmente possível e individualmente significativa e são estas as reacções fisiológicas, mediadas por processos internos e desencadeadas por condições de estimulação externas que sustentam a modulação e a activação sexual (Vala & Monteiro, 2002). Aumentam os riscos principais de saúde (perturbações alimentares, consumo de drogas, doenças sexualmente transmissíveis). O desenvolvimento da capacidade de pensar de forma abstracta e de utilizar o raciocínio científico, se bem que o pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e comportamentos, a escolaridade está centrada na preparação para a universidade ou uma profissão, a procura da identidade, incluindo a sexual, torna-se central. O relacionamento com as figuras vinculativas é, de forma geral, adequado. Por fim, o grupo de pares apoia o desenvolvimento e o testar do auto-conceito, mas pode igualmente exercer uma influência anti-social. Todos estes factores afectam o desenvolvimento do sentido de self (Papalia, Olds & Feldman, 2001). Assim, esta é uma altura em que habitualmente se podem produzir repetições ou rearranjos de fragilidades ou distorções anteriores (Strecht, 2002).
Depois desta breve resenha, poderia levantar muitas questões, mas vou levantar duas apenas:
1) é justo castrar os jovens de todo este desenvolvimento submetendo-os a treinos tão intensos e a horas impróprias?
2) darão estes jovens atletas de elite se forem à escola impedindo-os de treinar afincadamente, longe de estímulos distractores?
Bem hajam e Boas Férias.

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