terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Diálogo interno e visualização mental


Algo que particularmente me aborrece é saber que existem especialistas em "diálogo interno" e outros em "visualização mental". Os chamados psicólogos do desporto. Eu, que sou apenas psicólogo (do ser humano como um todo), sou contra o dualismo cartesiano destes especialistas!
Mas como quem sabe só de psicologia, pouco sabe de psicologia... aqui vai um pouco de psicologia do desporto! Cómico, hã?

O ser humano está constantemente em diálogo interno através dos próprios pensamentos, que podem ser de natureza negativa (dúvida, incapacidade, falta de controlo) ou positiva (ânimo, segurança, eficácia). A literatura científica tem demonstrado que a convicção de executar algo com êxito (expectativas de auto-eficácia) produz um efeito favorável sobre a própria execução. É por este motivo que se devem incentivar os pensamentos positivos, de forma a contribuir para o aumento da confiança no êxito e permitam ao desportista ter uma prestação em condições favoráveis.

Quando a excitação se transforma em ansiedade ou quando uma atitude adequada se desequilibra, o atleta vai cometer erros. Este tende a focalizar imagens de insucesso, inadaptadas e incapacitantes que terão como consequência uma performance inferior. A performance vai ser tão má quanto o atleta recear poder ser. Contudo, os tipos de pensamentos que vão prejudicar (que podem inferir na excitação fisiológica) a performance do atleta (negativismo) podem ser associados a um sistema de reforços positivos (Vasconcelos-Raposo, 1991).

O desportista deve aprender a dialogar de forma positiva e ser capaz de identificar e substituir um qualquer pensamento negativo por pensamentos alternativos positivos. O primeiro passo para que o atleta consiga o controlar os seus pensamentos é estar consciente do discurso interno que mantém. Surpreendentemente, a maioria dos atletas não está consciente dos seus diálogos internos e ainda menos do impacto que estes têm sobre as suas acções (Williams, 1991).

A execução de êxito pode ser programada mediante pensamentos e imagens positivas antes da execução física. As afirmações positivas são manifestações que reflectem atitudes ou pensamentos positivos sobre si mesmo. Estes pensamentos quando utilizados frequentemente promovem a auto-confiança.

Se, para Williams (1991), a chave do controlo cognitivo é o diálogo interno, a frequência e conteúdo dos pensamentos dependem da pessoa e da situação se converte num recurso quando de alguma forma aperfeiçoa a execução da tarefa em causa, não podemos nunca negligenciar o ser humano à luz da experiência que transporta consigo um maior domínio de destrezas, facilitadora do diálogo interno, encurtando-o, tornando-o menos frequente e com mais probabilidade de se centrar em estratégias e sentimentos úteis.

E será com este tipo de aprendizagem cognitiva que se reduz o controlo consciente e se promove a execução automática das habilidades técnicas e físicas. Daí o lema: desde pequenino que se torce o pepino!

Viva os psicólogos na formação!

Bibliografia:
Vasconcelos-Raposo, J. (1991). Manual de definição de objectivos: Natação. Vila Real: UTAD.
Williams, J. M. (1991). Psicologia Aplicada al Deporte. Madrid: Biblioteca Nueva.

8 comentários:

CoachSPensamento disse...

Muito bem!

Anónimo disse...

caro Pedro, lamento que fique aborrecido por haver especialistas em diálogo interno e visualização mental.

Queria dizer-lhe que a psicologia do desporto também considera a pessoa como um todo.

No entanto, quando se visa a optimização do rendimento desportivo devem treinar-se capacidades psicológicas com alguma especificidade, recorrendo-se para isso a técnicas específicas, pois claro.

Considero, no entanto que os "psicólogos do desporto" devem conhecer e dominar mais técnicas além das por si referidas.

No entanto penso que o principal instrumento de trabalho do "psicólogo do desporto" é a relação. Aí sim, todos têm que ser especialistas.

Por último, queria dar-lhe os parabéns pelo blog, que tem, na minha opinião, alguns posts bastante interessantes.

Um abraço

Anónimo disse...

caro Pedro, lamento que fique aborrecido por haver especialistas em diálogo interno e visualização mental.

Queria dizer-lhe que a psicologia do desporto também considera a pessoa como um todo.

No entanto, quando se visa a optimização do rendimento desportivo devem treinar-se capacidades psicológicas com alguma especificidade, recorrendo-se para isso a técnicas específicas, pois claro.

Considero, no entanto que os "psicólogos do desporto" devem conhecer e dominar mais técnicas além das por si referidas.

No entanto penso que o principal instrumento de trabalho do "psicólogo do desporto" é a relação. Aí sim, todos têm que ser especialistas.

Por último, queria dar-lhe os parabéns pelo blog, que tem, na minha opinião, alguns posts bastante interessantes.

Um abraço

Unknown disse...

Acho isto muito intressante, cuando era jogador de futebol na Suecia, joguei no Hammarby no sub18 e tinhamos um psicologo que usava esta tecnica de visualizacao mental, nos (os jogadores) usavamos esta tecnica mental, nao sei se nos ajudava muito.

mas a pergunta é ha alguma alternativa?

Pedro Assis disse...

Caro Anónino, não me aborrece nada a existência de especialidades... mas em psicologia aborrece-me o facto de se esquecerem que uma pessoa funciona como um todo! Creio que aprendi isso no 1º ano de curso... certamente que concordará comigo! Mas (falo por conhecimento de casos) nem sempre isso acontece!

Caro Alex, antes de mais é um prazer tê-lo por aqui! A visualização mental é uma arma óptima. E como tudo, tem de ser treinada. Mas nunca se esqueça que um jogador para render o máximo, tem de estar bem em todas as áreas (concentração, motivação e, porque não, na sua vida social).

Cumprimentos e obrigado pelo contributo!

Anónimo disse...

Pedro, concordo plenamente. Aliás, infelizmente também conheço casos em que o atleta é visto isoladamente (inclusive por pessoas com formação em psicologia do desporto).

Em relação à visualização mental, sem dúvidas que ajuda na optimização no rendimento e é uma técnica óptima para a confiança e concentração sobretudo embora haja outras (originárias na PNL). Lamento que o Alexander não tenha conseguido tirar o máximo proveito, mas está sempre a tempo.

Quanto à vida social, é um factor determinante, sem dúvida, no rendimento desportivo. Penso que no seu percurso académico o Pedro terá estudado sistémica, o que vai de encontro a esta opinião.

Um abraço e continuação de bom trabalho.

Pedro Assis disse...

Exactamente, caro Anónimo, a teoria sistémica (outra "especialidade" da psicologia) só vem ao encontro do que defendo... a psicologia do desporto não é apenas psicologia do desporto, deve ir sempre pescar aqui e ali o que outras especialidades têm para oferer. A Teoria Sistémica defende algo que quer filósofo, qualquer psicólogo ou qualquer pessoa de bom senso já sabe (mesmo que inconscientemente): o ser humano tem de ser visto como um todo, nas relações entre as partes que se interligam e nunca estão separadas!

Assim, expanta-me e revolta-me sabr da existência de velhos do restelo pregados a um dualismo cartesiano... talvez devessem ler um pouco mais... talvez Damásio! ;)

Cumprimentos,

Nathalia Wilke disse...

Olá !
Boa tarde...

Primeiramente parabenizo pelo blog.
Fiquei durante um bom tempo lendo os conhecimentos compartilhados através deste. Creio ser muito importante esse tipo de iniciativa para que possa ter um intercâmbio de informações e também levar às pessoas maior consciência e ciência a respeito do que é, o que faz e qual a importancia da psicologia do desporto.
Em relação ao comentário anterior ao meu, em que se lê "a psicologia do desporto não é apenas psicologia do desporto, deve ir sempre pescar aqui e ali o que outras especialidades têm para oferecer." Gostaria de um posicionamento, um opinião sua se identifica uma relação evidente entre a psicomotricidade relacional e a psicologia do desporto. E qual seria.

Obrigada e que continue com tão interessantes contribuições à área.
Voltarei mais vezes para ler!

com os melhores cumprimentos!
Nathalia Wilke