quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Joaquim Gomes retém "memórias fantásticas" de uma "vitória inesquecível" 20 anos depois!

Hoje li um artigo curioso no Jornal "O Jogo":
Joaquim Gomes retém "memórias fantásticas" de uma "vitória inesquecível" 20 anos depois. Agora no papel de director, Joaquim Gomes, comemora quarta-feira 20 anos do seu primeiro e "inesquecível" triunfo na Volta a Portugal em bicicleta, cujas emoções continuam a ser "inexplicáveis".

"No momento em que sentimos que ganhámos, naquele instante, naqueles escassos instantes em que sentimos que chegámos à vitória, é algo que não vos posso explicar. Foram poucos os eleitos que puderam passar por estes momentos", disse à Agência Lusa o antigo corredor, que depois da vitória em 1989, ao serviço da Sicasal-Torreense, repetiu o feito em 1993, pela Recer-Boavista.

Segundo o próprio, o "grande apoio psicológico" prestado pelos directores desportivos, mecânicos e massagistas, "muitas vezes sem qualquer formação ao nível da psicologia", foi a chave para o sucesso.

"Ainda que eu sentisse que era o mais forte, estava a ser difícil para mim acreditar. A poucas horas da decisão final no contra-relógio, a ligar a cidade de Matosinhos ao Porto, havia alguma duvida se poderia vencer ou não. E é muitas vezes essa dúvida, esse receio, que conduz a derrotas fulminantes. Felizmente, ultrapassei isso, mas foram horas muito difíceis para mim", explicou antigo corredor lisboeta, recordando, 20 anos depois, o dia 12 de Agosto de 1989, que o "corou" pela primeira vez "rei" da "Portuguesa".

Reconhecendo-o como o "melhor momento" da sua carreira, o actual director da Volta a Portugal recorda as "memórias fantásticas", mas assume a dificuldade em expressar as sensações vividas: "Há um manancial de emoções que se vivem que não são passíveis de ser traduzidas em palavras".

"O ciclismo é uma modalidade demasiado exigente, muitas vezes não é uma modalidade desportiva, é uma prova de sobrevivência. Correr uma Volta com 21 dias, muitas vezes com mais de 40 graus de temperatura, em que tínhamos, pelo menos, três ou quatro chegadas em montanha e um percurso muito adverso, chegar à finalmente a uma vitória, em que, se calhar, já não se estava a acreditar, é completamente inexplicável", referiu.

Na altura, apesar do favoritismo, Joaquim Gomes receava ser novamente traído pela sorte.
"Quando um miúdo de 23 anos, que, tendo mostrado categoria para ganhar a Volta mais cedo e, a partir de determinada altura, acredita que havia de acontecer sempre qualquer coisa, como as famosas quedas na Serra da Estrela, que o impediam de ganhar a Volta, finalmente consegue atingir esse objectivo, é algo que se torna inesquecível e que vai alimentar a nossa imaginação para o resto da vida", acrescentou Joaquim Gomes, relembrando a "discussão ao segundo" com o brasileiro Cássio Freitas, que arrastou "milhares e milhares de pessoas para as estradas".

Contrasta com esta recordação a desistência na Volta a Portugal de 1995, que o antigo corredor elege como "o pior momento" da carreira, quando "era claramente o homem mais forte em prova".

"Mas, por via de um estúpido acidente durante a prova, acabei por escancarar as portas da vitória ao Orlando Rodrigues, que na altura representava a equipa espanhola da Artiach e acabou por se revelar um justíssimo vencedor", sublinhou o antigo corredor, reconhecendo ter marcado "várias gerações de corredores", durante as 18 Voltas a Portugal em que alinhou em 17 anos como profissional.

Terminada a carreira, Joaquim Gomes assumiu o desafio de dirigir a maior prova do calendário velocipédico nacional, realçando a sua própria evolução no desempenho da tarefa.
"Essa já é uma experiência de sete anos em que, incrivelmente, estou a passar por todos os sentimentos que passei, que é a altura em que sabemos que somos bons, mas psicologicamente ainda não temos bagagem, ainda que o possamos disfarçar muito bem, para enfrentar em pleno os grandes eventos. Como responsável da Volta a Portugal, passei um pouco por isso e penso que estou a entrar na fase de enfrentar os problemas com alguma frieza, que talvez não tivesse nos primeiros anos. Felizmente, as circunstâncias não me foram adversas e posso concluir que estou mais bem preparado do que nunca", frisou.

Cobiçando a "popularidade" de "outrora", o director da Volta a Portugal reconhece o "esforço enorme" nesse sentido, mas exorta à ambição.
"Há um esforço enorme para que a popularidade de outrora seja recuperada. Penso que isso está a ser conseguido, fruto, principalmente, da luta contra o doping. Mas há uma consciência global de que é preciso traçar estratégias e ser um pouco visionário. Não podemos continuar a viver à sombra dos mais de 100 anos de história que tem o ciclismo, de grandes eventos como o Tour, como a Vuelta, o Giro e a própria Volta a Portugal", concluiu.

In "O Jogo", 12.08.2009
Bem hajam e, ou boas férias ou bom trabalho!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

No percurso para a Alta Competição

No desporto em geral deparo-me com uma situação à qual gostava de ter uma resposta exacta: a influência da vida académica dos jovens no percurso para a Alta Competição.
Vejamos isto à luz da minha realidade, o futebol. Desta forma vou caracterizar a população à qual me refiro:
Neste percurso as escolhas que estes jovens fizeram centram-se num único objectivo, que potencia as suas atitudes, os seus desejos e as suas preocupações, o jogar futebol. Mas este objectivo pode assemelhar-se ao de qualquer pessoa que goste de jogar futebol e que sempre que pode sai de casa e vai jogar com os amigos. Porém, no caso destes jogadores, a diferença está no facto de se encontrarem já dentro do mundo mediático do futebol, embora se encontrem ainda num percurso para a profissionalização. Para Cruz (1996), quando estes pertencem a uma equipa com visibilidade competitiva internacional esta circunstância inflama as suas expectativas. Desta forma, estes jovens jogadores vivem intensamente a possibilidade de progredirem e de poderem dar continuidade ao seu sonho.
A dedicação quase total que o treino e a competição exigem, pode ser “castradora” de outros desejos ou intenções, nomeadamente do avanço nos estudos e do alcance de um nível escolar superior (Brito, 2007).
Nem vou falar da importância do desenvolvimento cognitivo que proporciona o andar na escola... andar na escola é também conviver. Socializar é trocar sentimentos e emoções, estados anímicos associados ao conflito (Jares, 2002), no sentido da uniformização de sensibilidades semelhantes ao nível da atitude, opiniões, interesses, de traços de personalidade, de competências cognitivas e socioemocionais. Desta forma propicia-se a formação de um grupo de pertença, devido ao envolvimento emocional e cognitivo dos indivíduos e às consequentes expressões comportamentais desse envolvimento. Logo, é impossível analisar a personalidade (assim como o desenvolvimento desta) de um sujeito sem atendermos ao comportamento do grupo, que é tanto função dos sujeitos quanto a situação social (Vala & Monteiro, 2002).
O ser humano vive em constante desenvolvimento, definido pelas alterações que ocorrem com o tempo no pensamento, comportamento, raciocínio e funcionamento de uma pessoa, devido a influências biológicas, individuais e ambientais. Em todos os estádios de desenvolvimento ocorrem mudanças claras e significativas, mas na adolescência estas são importantes e fundamentais no pensamento ao nível das funções intelectuais básicas e de nível superior, da organização e de conteúdo (Slater & Bremner, 2005).
A adolescência é a transição entre a infância e a idade adulta, que vai dos 11 aos 20 anos, que implica grandes mudanças interrelacionadas ao nível físico, cognitivo e psicossocial. O crescimento físico é rápido e profundo, é alcançada a maturidade reprodutiva (marcador mais relevante desta fase) – à luz da teoria social, a sexualidade é culturalmente esperada, relacionalmente possível e individualmente significativa e são estas as reacções fisiológicas, mediadas por processos internos e desencadeadas por condições de estimulação externas que sustentam a modulação e a activação sexual (Vala & Monteiro, 2002). Aumentam os riscos principais de saúde (perturbações alimentares, consumo de drogas, doenças sexualmente transmissíveis). O desenvolvimento da capacidade de pensar de forma abstracta e de utilizar o raciocínio científico, se bem que o pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e comportamentos, a escolaridade está centrada na preparação para a universidade ou uma profissão, a procura da identidade, incluindo a sexual, torna-se central. O relacionamento com as figuras vinculativas é, de forma geral, adequado. Por fim, o grupo de pares apoia o desenvolvimento e o testar do auto-conceito, mas pode igualmente exercer uma influência anti-social. Todos estes factores afectam o desenvolvimento do sentido de self (Papalia, Olds & Feldman, 2001). Assim, esta é uma altura em que habitualmente se podem produzir repetições ou rearranjos de fragilidades ou distorções anteriores (Strecht, 2002).
Depois desta breve resenha, poderia levantar muitas questões, mas vou levantar duas apenas:
1) é justo castrar os jovens de todo este desenvolvimento submetendo-os a treinos tão intensos e a horas impróprias?
2) darão estes jovens atletas de elite se forem à escola impedindo-os de treinar afincadamente, longe de estímulos distractores?
Bem hajam e Boas Férias.